Peixinho, baleia, golfinho e lula,
Este foi o mar que conheci,
Um mar seco como o sertão,
Mas é o meu sertão que virou mar.
Peixinho e golfinho eram filhotes,
De baleia e lula, mas que confusão!
Mas assim, chamavam meus cãos,
Que como eu da miséria vivia.
Saiam para caçar o que encontrassem,
E o que encontravam muitas vezes,
Dividiam com nós seu alimento,
Ou melhor, forçávamos a dividir.
Magros, lombrigentos e com rabugem,
E doidos por um carinho e água,
Que talvez todos fossemos assim,
Magros, lombrigentos e com rabugem.
Talvez nossos nomes também fossem do mar,
E por que não? Já que meu nome é severo,
Queria me chamar baleia, ela é grande e gorda,
E comer como uma baleia do mar e não do sertão.
Engraçada esta relação de querer ser do mar,
Será que os peixes querem ser do sertão?
Afinal lá a terra é molhada e não seca,
Que pensamento doido foi este que tive.
O calor pode ter afetado meu raciocínio,
Ou foi a água que não bebi,
Mas deixe para lá esta coisa sem sentido,
Lá vem baleia, lula, peixinho e golfinho.
Um preá na boca e um calango sangrando,
Ainda vivo, hoje temos mais que farinha,
Vamos deixar o calango com eles,
E assim vamos vivendo deste mar seco.
Itamar Nunes
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